Visita Guiada “Lisboa Operária: A classe operária na zona Oriental de Lisboa”

Nova visita guiada à “Lisboa Operária” a 23 de abril

9 Abril 2022 |

No próximo dia 23 de abril realizar-se-á uma nova visita guiada por Raimundo Santos à “Lisboa Operária: A classe operária na zona Oriental de Lisboa”.

No século XIX, com a Revolução Liberal e mais tarde, em 1834, com a extinção das ordens religiosas, esse património edificado deu lugar à vaga industrial que se prolongou até meados do século XX. A inauguração da linha de comboio Lisboa/Carregado em 1856 intensificou essa dinâmica industrial.

No início surgem as indústrias de tabaco, de fiação, de tecelagem, de tinturaria, de corticeira, de farinha, de malte, e mais tarde são as bolachas e massas, os fósforos, a borracha, a pólvora, as armas e o material de guerra, sabões, óleo alimentar, rações e uma grande quantidade de oficinas de tanoaria, metalurgia, reparação naval e outras. A atividade portuária e o armazenamento de vinhos, azeite e madeira entre outros, completam o cenário de azáfama que se viveu nessa época. Atraída por esta intensa atividade vai crescendo uma população que se instala como pode, a maior parte das vezes em espaços exíguos e insalubres, nos pátios, vilas operárias, casebres e barracas.

A estas condições difíceis, juntam-se a precariedade laboral, a dureza e o número de horas do trabalho, a carência alimentar – muitas vezes fome - e falta de assistência na saúde e na doença. Inevitavelmente, surge a revolta e a resistência, apoiadas nas ideias socialistas, republicanas (os regicidas reuniram-se na noite anterior numa quinta algures em Chelas), mas principalmente no anarco-sindicalismo que desenvolveu um trabalho notável de consciencialização e organização de classe a par de uma atividade cultural intensa.

Coletividades e associações culturais, recreativas, musicais e desportivas, cooperativas de consumo e sedes (Tanoeiros e Corticeiros) e delegações de sindicatos ou associações de classe e um centro republicano (Elias Garcia) dão vida e são vida coletiva. Mais tarde, em plena ditadura, chegam as ideias comunistas e, por fim, a extrema-esquerda.
É uma visita a este passado recente que vos convidamos a fazer connosco.

A visita, cujo início está agendado para as 9h no Metro da Bela Vista (saída Avenida Santo Condestável), é guiada por Raimundo Santos e tem uma contribuição de 15 euros ou 10 euros (preço solidário). O valor inclui um almoço na Sociedade Musical 3 d´Agosto. Inscrições aqui.
 

Programa da visita:

1. FÁBRICA DA PÓLVORA DE CHELAS (1898/1983)
Largo de Chelas
Fabrico de pólvora para munições.

2. CONVENTO DE CHELAS
Largo de Chelas

3. TUNA RECREATIVA JUVENTUDE CHELENSE (1909/1987)
Estrada de Chelas
Fundada em 1886, em 1909 passou e ter a sede no Palacete da Quinta da Conceição na Estrada de Chelas.

4. FÁBRICA DE MALHAS DE INÁCIO DE MAGALHÃES (1893/1973)
Estrada de Chelas
Fiação e Tecelagem de malhas.

5. VILA EMÍLIA (1932)
Propriedade do Industrial de madeiras Alves Ribeiro e da Tinturaria Portugália, existente no outro lado da rua. Ao lado da Vila construiu a sua moradia.

6. VILA FLAMIANO (1888)
Rua Gualdim Pais, Xabregas
Construída pela Fábrica de Fiação e Tecidos de Xabregas

7. FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS DE XABREGAS (Fábrica da Samaritana) (1857/1951)
Beco dos Toucinheiros, Xabregas
Fiação e tecelagem de algodão. Chegou a ter mais de 500 trabalhadores, sendo 2/3 mão-de-obra infantil.

8. VILA DIAS (1888)
Alto dos Toucinheiros
Nota: Vale a pena ler o romance Amanhã, de Abel Botelho, retrato da vida e das lutas do operariado na zona de Xabregas no fim do séc. XIX, incluindo a Vila Dias.

9. COMPANHIA DE FIAÇÃO E TECIDOS LISBONENSE (1840/1844)
Rua de Xabregas
Teve a primeira máquina a vapor na zona Oriental. Chegou a ter 400 trabalhadores. Sofreu um incêndio em 1844.

FÁBRICA DE TABACOS DE XABREGAS (1844/1965)
Convento de S. Francisco,
Rua de Xabregas
Tabacos, sabão e pólvora. Foi palco de muitas greves e despedimentos em massa no século XIX. Também usou abundantemente a mão-de-obra infantil.

10. FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS ORIENTAL (Fábrica das Varandas) (1888/1985)
Rua de Xabregas
Fiação e tecidos de algodão. No fim do século XIX tinha 425 trabalhadores e acabou com 250.

11. VILA MARIA LUÍSA
Calçada D. Gastão
Funcionou aqui a Escola Primário n.º20.

12. CENTRO ESCOLAR REPUBLICANO ELIAS GARCIA (1908/1974)
Calçada D. Gastão

13. MANUTENÇÃO MILITAR (1897/1978)
Rua do Grilo
Fábrica de Moagem, pão, massas, bolachas, torrefacção e moagem de café, conservas, refinaria de açúcar, matadouro e salsicharia, leite e fabrico de manteiga, tratamento de vinhos, etc. Tinha ligação direta ao Cais. Um grande complexo industrial com cerca de 80.000 m2 e que chegou a empregar quase 3.OOO pessoas. Na área social tinha Creche, Escola Primária, sala de cinema, barbeiro e consultas médicas.

14. COMPANHIA INDUSTRIAL DE PORTUGAL E COLÓNIAS
“A NACIONAL”. (1843/1998)
Rua do Beato
Farinhas, bolachas, massas, rações. Teve ligação direta ao Cais de embarque. Instalada inicialmente no Convento do Beato, adquirido pelo seu fundador, João de Brito, foi ampliada com novos edifícios industriais.

15. PÁTIO DA QUINTINHA
(Quinta do Marquês de Marialva)

16. FÁBRICA DE BORRACHA
LUSO-BELGA (1926/1980)
Rua do Açúcar
Fábrica de galochas, sapatos, acessórios para automóveis e motos, mangueiras,recauchutagem de pneus, etc.

17. SOCIEDADE NACIONAL
DE FÓSFOROS (1895/1985)
Rua do Açúcar
Chegou a ter cerca de mil operários. Tinha serviço médico, refeitório, creche, cooperativa e grupo desportivo.

18. FÁBRICA DE CORTIÇA DA QUINTA DA MITRA (1898/1919)
Rua do Açúcar

19. VILA PEREIRA (PRÉDIO SANTOS LIMA) (1887)
Rua do Açúcar

20. ESCOLA PRIMÁRIA DE “A VOZ DO OPERÁRIO”
Rua do Açúcar, Quinta do Bettencourt

21. SOCIEDADE COMERCIAL ABEL PEREIRA DA FONSECA (1907/1993)
Praça David Leandro da Silva
Armazenagem e tratamento de vinhos, azeites e indústria alimentar.
Tinha cais próprio no Tejo.

22. SEDE DO CLUBE ORIENTAL DE LISBOA
Praça David Leandro da Silva
Fundado a 8 de Agosto de 1946 resultante da fusão de 3 clubes de bairro: Marvilense, Chelas e Grupo Desportivo dos Fósforos.

23. JOSÉ DOMINGOS BARREIRO (1887/1998)
Praça David Leandro da Silva
Armazenagem e comércio de vinhos e tanoaria.

24. FÁBRICA DE MATERIAL DE GUERRA DE BRAÇO DE PRATA (1908/1988)
Rua Fernando de Palha
Complexo industrial militar, com uma área coberta de 62.000 m2 e 2.300 trabalhadores no fim da guerra colonial. Fabricou, entre outras armas, a célebre G3.

25. SOCIEDADE MUSICAL 3 DE AGOSTO (1885)
Palácio Marquês de Abrantes, Marvila
Nos terrenos da Quinta Marquês de Abrantes existiu o maior bairro de barracas da zona Oriental (Bairro Chinês).

26. SOCIEDADE NACIONAL SABÕES (1919/1996)
Estrada de Marvila
Ocupou uma área de 90 000 m2 e teve cerca de 500 trabalhadores no fim dos anos 70. Tinha Cais de comboio para transporte de mercadorias.

27. ESCOLA INDUSTRIAL AFONSO DOMINGUES (1956/2010)
Estrada de Marvila
Ao longo da sua existência (criada em 1884) a Escola teve outras localizações dentro da zona Oriental. Foram seus alunos Bento Gonçalves, secretário-geral do PCP, e José Saramago.